A Finlândia é sinônimo de felicidade, segundo diversos comparativos internacionais que tratam do tema. No World Happiness Report, que compara dados de 156 países, os finlandeses apareceram na primeira posição nos dois últimos anos. Mas há uma nuvem negra sobre esse mar de bem-estar: Puolanka, cidade de menos de 3 mil habitantes localizada no meio do território finlandês, ganhou fama como a capital do pessimismo no país – e faz questão de se apresentar ao mundo com esse cartão de visitas.
Na entrada da cidade, grandes placas amarelas à beira da estrada dão mostras da curiosa marca que os habitantes têm cultivado. "Você está chegando a Puolanka. Ainda dá tempo de dar meia-volta", diz uma delas (foto). Em cima dessa fama, o município criou um festival de pessimismo, um musical e até uma loja online, que vende camisetas e outros itens com dizeres como "velho rabugento" e "bruxa difícil".
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A fama começou a ganhar corpo no início dos anos 2000, quando Puolanka virou um exemplo contundente de um dilema demográfico finlandês: o envelhecimento e o declínio da população. O número de habitantes, 2,6 mil, é metade do registrado na década de 80. Desse total, 37% são pessoas com mais de 64 anos.
A Associação Pessimista de Puolanka é a responsável por iniciativas como as placas exibidas na entrada da cidade. Tommi Rajala, diretor-executivo da entidade, também criou vídeos "vender" a marca. Uma série deles faz piada com a falta de mulheres, outro dos problemas da demografia do município – os homens representam dois terços da população na faixa entre 20 e 29 anos. Nas redes sociais, os vídeos somam centenas de milhares de visualizações.
Niko, anti-herói interpretado por Antti Ryynänen, de 22 anos, estrela a série de vídeos em que ele percorre a cidade em busca de mulheres. Em um, o personagem se inscreve no Tinder – e acaba dando "match" com a mãe (assista no fim do texto; legendas em inglês disponíveis). "Não é um humor muito profundo", admite Rajala à BBC. Mas, com graça, essas e outras peças têm alimentado a fama.
A abordagem tem toque inconfundível do senso de humor finlandês, no qual a autodepreciação, rir de si próprio, é marca registrada. "Normalmente, a publicidade tem tudo a ver com fazer as coisas parecerem melhores do que são", diz Rajala. "A melhor coisa sobre o pessimismo é que não preciso mentir."